
Por Mario Filho
Alguns dos seguidores das religiões e cultos de matriz africana e afro-brasileiros (Ifaismo, Candomblé, Umbanda, entre outros) têm a errônea noção de que ao se iniciarem no caminho de Ifá ou dos Orixás todos os problemas de sua vida serão eliminados, que esse ato iniciatório lhes dará o poder de transcender as dificuldades e os fará imunes às tragédias. Todas essas noções são inexatas, errôneas e equivocadas. A iniciação neste caminho não é, em nenhuma hipótese, uma panaceia, ou seja, uma cura ou remédio para todos os males, sejam eles espirituais, mentais, emocionais ou físicos.
O propósito da iniciação nessas religiões e cultos é dar à pessoa uma consciência mais profunda de si mesma e do mundo. Essa consciência se torna a base de um processo de solução dos problemas, processo este que está baseado em uma visão complementar da interação pessoal e espacial do iniciando. A cerimônia iniciatória estabelece uma nova maneira de ver, de ouvir e de ser. Ela não remove, de forma mágica, as dificuldades da vida do Iniciado; ao contrário, posso dizer, piora-os, num primeiro momento, pois obriga o iniciado a lidar com seus problemas, erros, enganos e desacertos, algo que não fazia antes. Obriga-o a enfrentar sua sombra, aquilo que ele evita mostrar, o que mantém escondido, especialmente de si mesmo. A iniciação o obriga, também, a buscar as soluções em si mesmo, não em algo exterior, mas em seu âmago. Isso é extremamente difícil e doloroso, por isso é um processo árduo.
Ainda assim, a iniciação não é apenas a cerimônia realizada por um Sacerdote/Sacerdotisa, mas é a reafirmação diuturna do Iniciado dos princípios dos Orixás e Ifá, tal como são experimentados durante o processo ritualístico iniciatório, que realiza o renascimento dos indivíduos para uma nova vida. Este é um processo de transcendência das limitações. Cada nova revelação, compreensão, experiência ou cerimônia traz o potencial necessário para cada um dos iniciados.
No Odù Ìwòrì Méjì, Ifá nos diz:
Se passou pela iniciação em Ifá (Ìtẹ̀lodù), [tornando-se um Awo]
Esforce-se para usar sua inteligência e sabedoria. (…)
Awo, quando você foi iniciado em Ifá
Inicie-se novamente usando sua inteligência e sabedoria.
Em sua iniciação o velho deve morrer e renascer com uma nova profundidade de sabedoria. Deixar ir ao velho ser, deixar as velhas ideias, as velhas maneiras e manias podem ser uma tarefa difícil e dolorosa. A experiência de deixar esse estado anterior, no contexto da Iniciação, dá ao iniciado uma experiência simbólica de mudanças internas e externas que ocorrem cada vez que expandimos nossa consciência.
Os que estão buscando o fim das dificuldades, dos conflitos, dos desafios estão buscando o final da vida, não as bênçãos da vida. Na cosmologia e cosmogonia de matriz africana e afro-brasileira todas as formas de abundância chegam como consequência das transformações que acontecem durante a vida religiosa. Por isso não podemos enxergar a Iniciação aos cultos afro-brasileiros e de matriz africana como uma panaceia, mas sim como um meio de ser melhor para si mesmo, para os demais seres humanos e para toda a Criação.
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