Templo Caboclo Pantera Negra

Entrevista com a melhor idade

Por Mario Filho

 

Alberto é um homem de 83 anos. Apesar de sua excelente compleição física, está doente. Alberto sofre de depressão, que lhe causou uma série de outras doenças: diabetes e pressão alta, para exemplificar. Mas o que o levou a ficar assim? A morte de sua querida esposa, Fabrícia, carinhosamente chamada de Cici.

 

A morte de Cici foi um acontecimento bastante sofrido. Estava acamada há mais de ano, acabando por ficar três meses internada, sendo o último deles no CTI do Hospital São Gabriel. Cici foi definhando e com ela Alberto. Ele ficava todo o dia no Hospital, só voltava para casa para dormir, quando conseguia. Os filhos vinham quando podiam, o que não era constante.

 

Uma das filhas de Alberto, que morava no apartamento debaixo do dele, havia desaparecido um pouco antes de Cici ter sido transferida para o CTI. Nem pôde ser informada da morte da mãe, pois se mudou como fugitiva, sem se despedir, nem informar para onde ia. Apenas foi embora com os dois filhos adultos. Isso não espantou Alberto, ela sempre foi assim. Teve uma excelente educação, com amor e dedicação dos pais, porém nunca foi boa coisa. Mudou-se devendo três anos de condomínio. O apartamento dela só foi pago graças a Alberto e Cici que a ajudaram a quitar as prestações em atraso. Pagar o condomínio também já era demais!

 

Alberto teve outras decepções, além da filha. Andréia, uma sobrinha, morou com Alberto e Cici por dez anos. Teve tudo do bom e do melhor, pôde estudar, o que não fez; pôde encontrar um bom emprego, que não o fez, também; tinha outras preocupações, especialmente os namorados. Nunca conseguia manter-se com um por muito tempo. Era uma boa menina, mas desajuizada. Casou-se aos 38 anos, grávida, com um rapaz de 19. Foi há seis anos e estão juntos até hoje. Alberto e Cici ajudaram no enxoval, e deram muito presentes à netinha “torta”. Andréia não foi ao enterro de Cici, mesmo avisada. Não a visitou nenhuma vez no hospital. Decepção!

 

Alberto disse que ficou muito feliz quando me conheceu em 2004 ao visitar meu Terreiro; nesta época Cici já estava doente: tinha insuficiência cardíaca, seu coração estava três vezes maior do que o normal (quando faleceu estava cinco vezes maior); possuía um grave problema de coagulação, que tornava uma ferida na perna constantemente aberta; aliado a isso tinha uma grave insuficiência renal. Para controlar esses problemas tomava vários remédios diariamente. Alberto lembra que em uma consulta com um guia espiritual que trabalhava com cura este lhe recomendou uma série de chás e banhos nas pernas. Com eles a ferida se fechou. Após sua melhora Cici passou a fazer parte do corpo mediúnico de meu Terreiro.

 

Cici era uma médium excelente, possuía extraordinários guias espirituais. Alberto fala muito do principal deles: o Caboclo Jibóia. Emociona-se ao lembrar deste guia. Constantemente, durante os últimos dias de vida de Cici, Alberto via o Caboclo Jibóia ao lado da cama de Cici. Alberto tem o dom da visão. Para ele o Caboclo Jibóia nunca abandonou Cici, protegeu e cuidou dela até os últimos dias.

 

Em 2008 os problemas de Cici se agravaram. Ela foi internada no CTI e desenganada pelos médicos. Alberto foi aconselhado, secamente, pelo médico que a assistia a contratar os serviços de uma funerária, pois ela não duraria muito. Alberto se desesperou. Foi ao Terreiro e conversou com o Chefe Espiritual de meu Terreiro, Caboclo Pantera Negra. Este lhe recomendou que reunisse algumas roupas usadas de Cici e fosse ao Terreiro no dia seguinte, no domingo. Foi realizado um trabalho com as roupas de Cici. Alberto se emociona muito neste momento. Na segunda-feira Cici saiu do CTI e três dias depois teve alta. Alberto lembra que no dia do trabalho os guias espirituais que se manifestaram foram os Exus, sendo que o Exu Asa Negra lhe disse que o trabalho que estava sendo feito não resolveria os problemas de Cici, pois a saúde dela estava muito debilitada, eles só poderiam oferecer um alívio ao seu sofrimento.

 

Alberto e Cici continuaram freqüentando o Terreiro esporadicamente. A saúde dela não lhe permitia que continuasse trabalhando como médium, o que a fazia sofrer muito, pois gostava de trabalhar com seus guias espirituais e oferecer seus préstimos aos que iam ao Terreiro.

 

Na metade de 2010 pararam de ir ao Terreiro. Cici já não conseguia se locomover direito. A idade e os problemas de saúde pesaram muito. Ela passava a maior parte do tempo deitada, com um cansaço constante e extremado. Em duas diferentes ocasiões o Caboclo Jibóia se manifestou em Cici e disse para Alberto que a hora de “sua filha” estava chegando e que era para ele se preparar para o momento de sua ida para o mundo espiritual. As palavras do Caboclo Jibóia o consolavam, mas não dirimiam sua tristeza, que procurava não demonstrar a ninguém. Afinal ele era o homem, não podia demonstrar fraqueza.

 

Não tentei fazer perguntas a Alberto. Apenas ouvi o que ele tinha a dizer. Respeitei sua dor. Durante nossa conversa houve momentos de muita emoção para nós dois. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que foi uma enorme catarse. Ao nos despedirmos Alberto me pediu para que não me esquecesse de Cici e que continuasse a cuidar dela, agora no mundo espiritual.

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