Templo Caboclo Pantera Negra

As Sete Linhas de Umbanda e suas controvérsias

Por Mario Filho

 

Há uma grande dificuldade em se estabelecer quais seriam as Sete Linhas de Umbanda. Desde o início do desenvolvimento umbandista, as Sete Linhas fazem parte do corpus doutrinário dessa religião. Trazem-se, então, alguns dos exemplos de autores umbandistas, entre os quais não há consenso a respeito delas.

 

Preferiu-se fazer o registro de obras que foram escritas até o ano de 1952, em razão do desconhecimento que as novas gerações de umbandistas têm a respeito dos primórdios da Umbanda.

 

1933 – Leal de Souza

Para o escritor e poeta Leal de Souza, considerado o primeiro escritor umbandista, em sua obra “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda” (Rio de Janeiro, s/e., 1933), as Sete Linhas de Umbanda são as seguintes:

 

Leal de Souza, além de ser considerado o primeiro escritor umbandista, era o “porta-voz” da Tenda Nossa Senhora da Piedade, tida como a primeira Tenda de Umbanda no Brasil, que foi criada sob as ordens do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Assim, Leal de Souza trazia em uma coluna no Jornal “A Noite” registros daquilo que acompanhava na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, dirigida por Zélio Fernandino de Moraes, ou seja, essa classificação era a que provavelmente Zélio seguia.

 

Leal de Souza foi membro da Tenda Nossa Senhora da Piedade por muitos anos, só a deixando quando recebeu ordens do Caboclo das Sete Encruzilhadas para fundar a sua própria Tenda de Umbanda, a Tenda Nossa Senhora da Conceição.

 

Vê-se que havia pouco conhecimento a respeito dos nomes dos Orixás. Durante muitos anos, e não só por Leal de Souza, o Orixá Oxóssi foi chamado de Euxoce, Iansã foi chamada de Nha-San e Iemanjá de Amanjar.

 

1939 – Waldemar L. Bento

Já para Waldemar L. Bento, em seu livro “A Magia no Brasil” (Rio de Janeiro: Oficinas Gráficas do Jornal do Brasil, 1939), as Sete Linhas, não são 07, mas, na verdade, 08:

 

Como se pode ver, Exu passa a ser o “cabeça” de uma das Linhas de Umbanda, a primeira.

 

1941 – 1º Congresso de Espiritismo de Umbanda

Em 1941, durante o 1º Congresso de Espiritismo de Umbanda, realizado no Rio de Janeiro, foram discutidas as Sete Linhas de Umbanda, sendo que as Linhas foram nomeadas de “grau de iniciação”, que são:

 

Em que pese o 1º Congresso ter sido convocado para estabelecer uma doutrina única a respeito do que seria a Umbanda, a distribuição das Sete Linhas não corresponde a nenhuma das que haviam sido divulgadas, nem mesmo a de Leal de Souza, a qual era a preconizada pela tenda Nossa Senhora da Piedade.

 

1942 – Lourenço Braga

Para Lourenço Braga, em seu livro “Umbanda e Quimbanda” (Rio de Janeiro: Livraria Jacintho, 1942), as Sete Linhas são as seguintes:

 

Lourenço Braga era um autor diametralmente oposto a qualquer aproximação com as raízes negras da Umbanda, afirmando que as práticas de origem africana só deveriam ser feitas “depois de ficar provado haver de fato necessidade de lançar mão desse recurso extremo” (p. 68). Todas as teorias racistas que grassavam no inicio do século XX, especialmente as que se desenvolveram com a eugenia, influenciaram o trabalho de Lourenço Braga, que dizia que os africanos eram maus e queriam prejudicar seus semelhantes e que a Umbanda “redimiria” as práticas fetichistas e maléficas praticadas pelos negros, especialmente ao aproximar a Umbanda do cristianismo de viés espírita.

 

1949 – Florisbela Maria de Souza Franco

Para Florisbela Maria de Souza Franco, em sua obra “Umbanda” (Rio de Janeiro: Ed. Aurora, 1949), as Sete Linhas são as seguintes:

 

Florisbela Maria de Souza Franco era uma espírita que abraçou a Umbanda, mas nunca deixou de lado o espiritismo e via que a Umbanda era parte do espiritismo kardecista.

 

Em seu livro “Umbanda”, pode-se ver a descrição que ela faz de sua própria obra como uma “obra mediúnica sobre este ramo de espiritismo prático, ditado pelos espíritos de Pai João, Mãe Maria da Serra e Aleijadinho, no Grupo Espírita Unidos pelo Amor de Jesus, em Juiz de Fora, MG”. (p.1)

 

Ela também afirma que a “Umbanda […] poderá ser modificada segundo o grau de aperfeiçoamento que uns e outros forem atingindo; seu desaparecimento, contudo, só se dará quando os homens se tornarem verdadeiros espíritas.” (p. 41)

 

Ela era conhecida como médium de psicografia, tendo escrito, também, o livro “Obras Psicografadas” (Rio de Janeiro : Jornal do Comercio, 1949).

 

1950 – Oliveira Magno

Para Oliveira Magno, em sua obra “A Umbanda Esotérica e Iniciática” (Rio de Janeiro: Ed. Aurora, 1950), as Sete Linhas são as seguintes:

 

Oliveira Magno foi autor de vários livros de Umbanda. Além do citado, escreveu “Adivinhe o futuro na bola de cristal” (Rio de Janeiro: Espiritualista, 1951), “A Umbanda e seus complexos” (Rio de Janeiro: Espiritualista, 1951), “Práticas de Umbanda” (Rio de Janeiro: Espiritualista, 1952), “Ritual Prático de Umbanda” (Rio de Janeiro: Espiritualista, 1953), “Antigas Orações da Umbanda” (Rio de Janeiro: Espiritualista, 1954), “Horóscopo na Umbanda” (Rio de Janeiro: Espiritualista, 1956), “Magia prática sexual” (Rio de Janeiro: Espiritualista, 1959) e “Umbanda e Ocultismo” (Rio de Janeiro: Espiritualista, 1960). Suas obras são claramente influenciadas pelas doutrinas ocultistas do século XIX e da teosofia de Helena P. Blavatsky.

1951 – Byron Torres de Freitas e Tata Tancredo da Silva Pinto

Já Para Byron Torres de Freitas e Tata Tancredo da Silva Pinto, na obra “Doutrina e Ritual de Umbanda” (Rio de Janeiro: Ed. Espiritualista, 1951), as Sete Linhas são:

Tata Tancredo da Silva Pinto foi o incentivador da Umbanda Omolocô, que refutava as doutrinas racialistas que havia na literatura umbandista, tentando resgatar as raízes africanas da Umbanda, especialmente baseado nos Cultos de Nação do Candomblé e na Macumba carioca. Esse retorno à África trouxe muitos problemas a Tata Tancredo, que virou alvo de críticas de grande parte dos autores de Umbanda de sua época, pois esses queriam, a todo custo, retirar da Umbanda qualquer ligação com a África negra.

 

1952 – Aluízio Fontenelle

Para Aluízio Fontenelle, em sua obra “O espiritismo no conceito das religiões e a lei de Umbanda: venerável ordem espiritualista iniciática universal, templo de Alá” (Rio de Janeiro: Ed. Espiritualista, 1952), as Sete Linhas são:

 

Aluízio Fontenelle foi um autor bastante controverso. Foi o primeiro autor umbandista e escrever sobre Exu na Umbanda, relacionando-o com os demônios dos grimórios medievais. Deve-se a ele, principalmente, a construção de Exu como um demônio do universo judaico-cristão. Suas obras: “Exu” (Rio de Janeiro, Ed. Espiritualista, 1951), “A Umbanda através dos Séculos” (Rio de Janeiro: Edição da Organização Simões, 1953) afirmam isso.

 

Como se pôde ver, em que pese a tentativa de se estabelecer quais seriam as Sete Linhas de Umbanda, não houve, desde os primórdios da Umbanda consenso a respeito delas. No entanto, pode-se dizer que as Sete Linhas que a Tenda Nossa Senhora da Piedade e que Leal de Souza registrou em seu livro, teria sido a “original”. Não se sabe os motivos dos autores divergirem a respeito delas, mas isso demonstra que nunca houve consenso e nunca haverá a respeito delas.

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