Templo Caboclo Pantera Negra

Pessoas más destroem pessoas boas

Por Mario Filho

 

Meus amigos,

 

Muitas pessoas criticam-me em razão de meu comportamento, especialmente minha chatice em querer tudo correto, sendo, muitas vezes, mal visto pelo meu excesso de cuidado e zelo.

 

No ẹsẹ̀ (verso) do Odù Ìká-Òfún, Ifá diz como deve ser o comportamento de um Sacerdote, no qual coloca uma série de regras que deverão ser compulsoriamente observadas. Essas regras de conduta é que norteiam a forma como ajo no meu dia a dia, portanto minha chatice, como Sacerdote, advém daí.

 

Na verdade eu não deveria me preocupar com as críticas que me fazem, pois como diz um provérbio Yorùbá “Èèyàn búburú bà èèyàn jẹ́” (Pessoas más destroem pessoas boas) (Owomoyela, 2005:331), ou seja, pessoas de má índole sempre tentarão destruir a reputação de seus “inimigos”, que para eles são os que não concordam com seus pensamentos e dificilmente terão outra forma de se comportarem. Sobre essas mesmas pessoas, há outro provérbio que diz: “Èèyàn búburú pọ̀ ó jùgbẹ́; ẹni rere wọ́n ju ojú lọ” (Pessoas más são tão sem valor quanto são as fezes; pessoas boas são tão preciosas quanto os olhos) (id., p. 477). Assim, preciso dar valor apenas às pessoas que me são preciosas.

 

Surpreendo-me com aqueles que dizem que as afirmações do Odù Ìká-Òfún foram influenciadas pela tradição judaico-cristã e, por isso não devem ser levados em conta, pois reafirmam o colonialismo africano ao submeter a tradição Yorùbá à tradição do estrangeiro. Ora isso é uma falácia, um grande erro!

 

Qualquer Sacerdote, seja de qual tradição pertença, deve ter a retidão de caráter como mola mestra de sua vida: não fazer o que não sabe, não enganar as pessoas, não ser falso, não revelar ou mudar os ritos sagrados, não usar aquilo que sabe para prejudicar inocentes etc. é o mínimo que se exige de um Sacerdote. Não há outra forma de pensar!

 

Para terminar essas minhas considerações, trago um excerto do texto do filósofo Omotade Odegbindin, no qual ele analisa o ponto de vista do povo Yorùbá sobre a retidão de caráter:

 

“Os Yorùbá crêem que Ìwà (caráter) pode alterar uma escolha do Orí [cabeça ou destino] para melhor ou destruí-la. Em outras palavras, eles creem que Ìwà ou retidão moral traduz ‘a essência do ser’ (Abimbola, 1975:93). Ìwà é usada para avaliar a prática da ética de uma pessoa [ou seja, a moral] e, por essa razão, usada para determinar os valores de vida que ela possui. Os Yorùbá, entretanto, creem que um bom caráter pode alterar um mau Orí ou mau destino e mudá-lo para um bom Orí ou bom destino e não ao contrário. É por isso que os Yorùbá frequentemente dizem: ‘Orí kan ki í burù l’Ótu, ìwà nìkan ló ṣòro’ (Por pior que seja o destino de alguém, a moral e a retidão poderão corrigi-lo). Isso é ampliado por um verso do Odù Ogbè-‘Gundá que diz:

 

Òbèlènke Abínúyooró
A dífá fún Olóríire ìgbà ìwásẹ̀
Ẹni l’órí rere ti kò ní ìwà rere
Ìwà l’ó máa bà Orí rẹ̀ jẹ́. (Ogundale, Bàbáláwo)

Òbèlènke Abínúyooró (nome do Bàbáláwo do temperamento)
Consultou Ifá para o primordial Olóríire (aquele que escolheu um bom destino)
Aquele que escolheu um bom destino, mas não tem bom caráter,
Destruirá o destino escolhido por ele.” (Owomoyela, 2005:10)

 

Não me considero símbolo de retidão, pois, como humano, erro e muito; entretanto, tento basear minha vida, em geral, naquilo que considero correto, ou seja, na ética e em sua prática, a moral. Se estou certo ou errado, não posso dizer, deixo o julgamento de minha forma de ser e agir apenas a Olódùmarè, que é o único que vê e sabe o que há em meu coração.

Referências

Adegbindin, Omotade. A critical study of Yorùbá ontology in the Ifá corpus. Bohol (Filipinas): Lumina, 22, nº 2, 2011.

Owomoyela, Oyekan. Yoruba Proverbs. Nebraska-Lincoln: University of Nebraska Press, 2005.

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