Por Mario Filho
Há muito se tem tentado afastar a Umbanda de suas origens negras. Afirma-se que a Umbanda é uma religião brasileira, que não possui nenhuma ligação com a África ou com os negros, pois foi formada sob a égide da “democracia racial”. Ao trazer esse poema de Attila Nunes, um dos principais líderes umbandistas da metade do século XX, no Rio de Janeiro, quer-se mostrar que é impossível dizer que a Umbanda não possui ligações com a África e com os negros. Acrescenta-se a isso que esse poema, publicado em 1957 pelo “Jornal de Umbanda: órgão noticioso e doutrinário da União Espiritista de Umbanda”, ou seja, esse jornal, como o próprio nome indica, é o que trazia matérias e doutrina da “União Espiritista de Umbanda”, que foi fundada em 1939, com o nome de Federação Espírita de Umbanda, por ordem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, portanto era o jornal oficial para divulgação de assuntos de interesse da chamada Umbanda Branca e Demanda. Como se verá o poema é repleto de palavras de origem africana, especialmente yorùbá e bantu, portanto não é possível querer-se negar que a Umbanda, desde seus primórdios, tenha sido influenciada pelo povo preto.
Janaína caminhou, Janaína subiu morro.
No terreiro de Inhaçã bateu cabeça, defumou sua banda,
Saravou Urubatã, saravou Nanã, saravou Moça Rica.
Eu vi Janaína bonita, eu Janaína branca, saravando no gongá.
Janaína tem mironga, tem feitiço, tem beleza nos olhos.
A sua fé tem a firmeza das sete luas de Obatalá!
No Congá de Cosme, saravou Beijada, saravou as crianças.
No pegi de Preto Velho, saravou Cambinda, saravou seu Orixá!
Cantou pra Yaô na curimba do caricó, entrou na Gira,
Babá fez amaci na sua cuia, saravou Yemanjá!
Janaína curimbou, curiou com Preto Velho no coité,
Pediu agô, saravou, pediu didê.
Saravou povo de Congo, linha de Angola, deu Obi e Orobô.
Preto Velho gosta de Janaína, Preto Velho deu agô, deu Odé e ajudou.
Inhaçã baixou no seu cavalo, Inhaçã ouviu pedido de Janaína branca!
Babalaô fez trabalho e despachou nas águas de Olokum.
Janaína saravou povo do mar, bateu cabeça no Ererê, saravou Yemanjá:
Saravá, Mamãe Yemanjá; Agô, Mamãe Yemanjá
Agô yê, Janaína, Ago yê!
Janaína entrou na Kalunga grande e deu flores a Yemanjá.
Saravou, cantou para Oxumarê, mergulhou no fundo do Olokum.
Curimbou no Ererê: Indá no Olokê, Saravá Yemanjá, Saravá Mamãe Oxum!
Na hora grande, Pomba-Gira riscou sua pemba, saravou Kalunga pequena.
Pomba-Gira girou, e curiou com Janaína.
Janaína pagou: deu marungo, deu bango, deu jimbo e deu marafo.
Pomba-Gira fez matança, fez amalá, preparou comida pra linha de Exu.
Babalaô chamou a linha das Sete Encruzilhadas.
Janaína saravou seu Toquinho, saravou Tiriri, saravou Tranca Ruas, saravou Pomba-Gira das Almas.
Firmou ponto, cantou pra falange do seu Omulu e cuirou: Ina, Ina Mojiba!
Pomba-Gira girou, girou, deu maleme, até ajudou!
Janaína macumbou, curimbou, saravou no coité da Quimbanda!
Pomba-Gira firmou ponteiro, fez magia, queimou a tuia na fundanga.
Saravou o gongá, saravou Babá, girou e bradou na porteira.
Saravou Kalunga, saravou Congo, seu Omolu e as Sete Encruzas de Odum.
Janaína fez obrigação, pagou, pediu maleme e caminhou.
Correu sua gira no caricó, cantou na mata e mandingou no arerê de Inhaçã.
Cambono rodou Caxixe no seu camutuê, bateu Idá pra Ogum, Saravou Ogum Megê!
Ogum firmou ponto, cantou, rodou cabaça e bateu gonguê.
Janaína saravou o atabaque, girou na banda do Aguiné e saravou seu Alufá.
Saravou Babalaô, seu bangolê deu agô, cantou pra Yaô e saravou Babá.
Eu vi Janaína feliz, Janaína corajosa, bonita e amorosa.
Índia branca que tem feitiço nas mãos e mandinga no corpo cheiroso.
Na graça de Pai Xangô ganhou perdão, fez camarinha, recebeu seu Orixá.
Sem diamba, sem castigo, ganhou presente de coração e venceu demanda.
Pai de cabeça curimbou no terreiro, coriou no coité, bebeu aluá e provou amalá.
Ogan Kolofé saravou o atabaque, girou na banda e saravou seu Alufá.
Janaína firmou seu camutuê, cantou pra linha de Ogum Rompe Mato,
Saravou o Malungo, seu Bangolé, deu Agô, cantou para Iaô e saravou o Babá.
Janaína firmou seu camutuê, cantou para a linha de Oxosse:
Cobra Verde, Folha Seca, Cobra Coral e Ararigboia;
Saravou Aymoré, saravou Pedra Preta, Pena Branca, Pena Verde e Pena Azul!
Janaína saravou o Povo da Mata, saravou o Povo do Mar e saravou a Quimbanda!
Eu vi Janaína cantando, curimbando, saravando Inhaçã,
Saravando Moça Rica, saravando Nanã, Nanã Buruquê;
E eu saravei na sua fé, na força de seu camutuê!
Na gira de Oxóssi, na linha de Ogum, Ogum de lê, Ogum Megê!
A minha guia é sua guia, na força das Sete Luas!
No arerê de Maria Conga, na Umbanda e na Quimbanda.
No arerê de Olokum, no Olokê, na linha da Mata, na pedreira e na cachoeira.
Saravá Inhançã, Saravá Mamãe Oxum.
Saravá Cosme, Damião e Doum,
Crispim e Crispiniano, Martim, Martiniano e Alabá
Na Kalunga de Odum e Olokum, na graça de Zambe, meu pai.
Peço Maleme, proteção pra Janaína! Agô-yê para Janaína!
Eu dou marafo no coité, dou Alofé, preparo o Efó.
Faço o padê, despacho o Ebó.
Dou bango, dou jimbo, dou presente, dou Obi e Orobô!
Se tenho pecado, cruza meu camutuê,
Queima a fundanga, zabumba no ponto, retumba no agogô!
Se fujo ao preceito, castiga, machuca “bacuro de pemba”.
Riscando a fundanga na tuia que explode na mão de seu Ganga!
Nas águas da cachoeira faço obrigação: dou jimbo, dou flores de presente.
Bato cabeça na encruzilhada; no cruzeiro da kalunga pequena acendo vela.
Sou filho de Táta que bate seu búzio, que joga seu búzio,
Que vence demanda na graça de Zambi, na graça de Oxalá!
Não temo o castigo, maleme Xangô!
Maleme a seu filho que canta, que gira, na gira de Umbanda!
Agô, meu pai! Agô pra seu filho que gosta de Janaína!
Maleme pra filho de pemba, filho de pemba não tem querê, meu pai!
Mas, pra mim, só quero uma coisa:
Só quero pra mim….
O coração de Janaína!
Maleme pra Janaína!
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