O Caboclo Pantera Negra se tornou o Guia Chefe do Templo Espiritual que leva o seu nome antes mesmo dele (o Templo) existir de fato. Por meio de uma consulta feita com o Owó Ẹyọ Mẹ́rìndílógún (Jogo de Búzios) o Bàbálòrìṣà Lúcio de Ògún disse a Mário Filho (seu ọmọ Òrìsà - "filho de Santo") que este deveria fundar um Terreiro e que o Guia Chefe seria o Caboclo Pantera Negra. Isso soou estranho, pois ele nunca havia se manifestado em Mário; ainda assim, Mário, com auxílio do Babalórìṣà Lúcio de Ògún, fundou o Templo e, nesta ocasião, ele se manifestou pela primeira vez e assumiu, verdadeiramente, o Templo, dizendo o que deveria ser feito para sedimentação da Casa e como seus trabalhos deveriam ser conduzidos, com algumas características diferente da forma como outras Casas de Umbanda realizam seus trabalhos.
Podemos dizer que o Caboclo Pantera Negra é uma entidade bastante enérgica, correta e ética. Conduz os trabalhos de Umbanda e dirige o Templo Espiritual, que leva seu nome, com muita desenvoltura e denodo. Seus conselhos são procurados por muitos, chamando-o de Pai, graças a sua grande sabedoria. Apesar de enérgico, consegue trazer alento àqueles que o procuram durante as consultas espirituais.
Há dois tipos de felinos que são chamados de Pantera Negra: o leopardo (Panthera Pardus) ou a onça (Panthera Onca) que tem alto grau de melanina em suas peles o que lhes dá o nome de Pantera Negra. O primeiro é comum na África e na Ásia; o segundo nas Américas. A Pantera Negra é um animal totêmico, assim como seu “primo” o Leão (Panthera Leo). É cultuado em diversas partes do mundo, simbolizando realeza, inteligência, força, rapidez e destreza. Em diversos cultos xamânicos a presença da Pantera Negra é observada. Seu simbolismo é tão forte e marcante que foi escolhida como símbolo de um grupo de defesa de direitos dos afro-americanos, chamado de “Panteras Negras” nos Estados Unidos. É, também, um herói em quadrinhos da Marvel Comics.
Pelizari diz que na região Sul do Brasil, principalmente, o Caboclo Pantera Negra é encontrado num grupo específico de Caboclos chamado de Caboclos Africanos. Ali ele se manifesta com o nome de Pantera Negra Africano, ao lado de Arranca-Caveira Africano, Arranca-Estrela Africano e Pai Simão Africano, entre outros. Lembra, ainda, que o Caboclo Pantera Negra pode ser encontrado no Haiti, no culto Voudu, como Agassou, sendo que sua representação é feita por um ser meio homem, meio leopardo.
No Vodu haitiano se diz que Agassou é um Lwa (Loa), uma divindade que guarda as velhas tradições do Dahome (atual Benin), país de cuja tradição religiosa saiu. Diz-se que Agassou veio para a região do Haiti junto com os escravos negros, a fim de protegê-los no novo continente. Diz-se que Agassou é muito temido, pois é profundamente justo e não perdoa os fracos de caráter.
Agassou, no Dahome, é um Vodun1 gerado de um encontro divino entre a Princesa Aligbọnà e a pantera Gbékpò, por isso recebeu o apelido de Agassou, que quer dizer bastardo, entretanto seu nome verdadeiro é Kpòsú, conhecido no Brasil como Kposun, Possun ou Possum, cuja representação é uma Pantera e é cultuado no Candomblé Jeje. O nome Kpò em fongbe (uma das línguas faladas no Dahome) significa Pantera. O Vodun Kpò é associado, ao mesmo tempo, à família do Vodun Hevioso (Vodun do trovão) e da Vodun Áyízàn (Vodun da terra). É ligado à dinastia real do Dahome, sendo o patrono dos guerreiros e caçadores.
No Brasil o Caboclo Pantera Negra é, muitas vezes, confundido com Exu, no entanto ele é um Caboclo, que assim como outros Caboclos trabalha na chamada “linha de Exu”. Na Umbanda o Caboclo Pantera Negra é conhecido como o Chefe da linha dos Caboclos Quimbandeiros, o que lhe dá o “poder” e a “deferência” de trabalhar em diversas linhas de Umbanda e em outros cultos afro-brasileiros.
O Bàbálòrìsà Lúcio de Ògún, patrono do Templo Espiritual Caboclo Pantera Negra, dizia que o Caboclo Pantera Negra era o chefe de uma linhagem de Caboclos índios que eram oriundos de tribos isoladas e desconhecidas, sendo estes muito fortes, arredios e até brutos.
Não há muitos médiuns que trabalham com o Caboclo Pantera Negra. Bàbá Lúcio dizia que os médiuns que o incorporam não costumam beber, falar demais ou serem covardes. Afirmava que eles são muito disciplinados e disciplinadores, verdadeiros guerreiros modernos.
Os médiuns que trabalham com o Caboclo Pantera Negra, por pedido do próprio Caboclo, costumam usar um bracelete de ferro no pulso esquerdo, dada à sua ligação com o Òrìsà Ògún.
Diz-se que poucos médiuns conseguem suportar a incorporação dele ou de outros espíritos da família das Panteras. É necessária muita preparação, firmeza de pensamento e moralidade. Do contrário, e isto realmente acontece, o médium terá problemas durante a incorporação.
Em outras ilhas do Caribe, além do Haiti, também encontramos seguidores do Pantera Negra. Alguns o invocam como espírito indígena e outros como uma força africana, meio homem, meio felino.
O Caboclo Pantera Negra aprecia em suas oferendas milho vermelho e feijão fradinho torrados, milho cozido, côco em pedaços pequenos, frutas silvestres, mel, água e charuto grande, robusto e de boa qualidade. O Caboclo Pantera Negra não recebe bebidas alcoólicas como oferenda. Esta é uma regra para todos os Caboclos Pantera Negra. As oferendas devem ser depositadas em encruzilhadas na mata ou aos pés de grandes árvores, podendo, em alguns casos, recebê-las no cemitério ou numa caverna escura no interior de uma mata densa e fechada.
O Caboclo Pantera Negra é um dos poucos Caboclos que é assentado e não firmado, esta também é uma regra comum a todos os Caboclos Pantera Negra. Seu assentamento costuma ser feito em potes de barro preenchidos com terra de cemitério de tribos indígenas, ervas específicas e outros elementos secretos, que são consagradas por Sacerdotes de Umbanda ou de Kimbanda, iniciados nos mistérios desses poderosos espíritos benfazejos.
Suas cores representativas são o vermelho e o verde. Os médiuns que trabalham com o Caboclo Pantera Negra usam um fio de contas com três cores: vermelho, verde e preto, com uma firma preta. Não costuma usar o tradicional cocar indígena, fuma charutos robustos e bebe água.
*Fotos do Sr. Caboclo Pantera Negra manifestado através da mediunidade do sacerdote Mario Alves Filho.
[1] Vodun é o étimo fongbe que possui o mesmo significado que Orixá para os Ioruba.
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