Por Mario Filho
É necessário esclarecermos alguns pontos de destaque na religião tradicional africana, que influenciaram diretamente o Candomblé e Umbanda:
Primeiramente os Yorùbá não criam no “céu” e “inferno”, pois para eles o maior castigo que existia era o de não poder se tornar um Àgbà Egúngún (Grande Ancestral Divinizado), merecedor de ser cultuado no Ilé Igbàálé (Casa dos Antepassados) e assim ter a oportunidade de vir a ser, novamente, um Ayórunbọ̀ (retornado do além); por isso os Yorùbá creem em reencarnação (àtúnwá), mas não é a mesma que existe no hinduísmo ou no espiritismo, pois, para os Yorùbá, voltar ao Àyé (mundo físico) era uma certeza cíclica, sem fim, dentro de uma mesma linhagem humana, pela qual se perpetuava a conjunção dos Ancestrais com os seus descendentes vivos e aqueles que ainda iriam nascer.
Não há uma escala evolutiva entre os Yorùbá, mas é possível, através de seus atos, comportamentos, de seu Ìwà Pẹ̀lẹ́ (caráter gentil, honesto e benfazejo), em vida, transformar-se num Àgbà Egúngún ou, ainda, transformar-se em um Òrìşà.
Os Yorùbá creem que existem nove céus (Mẹ́sàn Ọ̀run). No mais alto deles (Àjàlọ́run) está Olòdúmarè ou Olọ́run (Deus): O Ser Supremo, Incriado e Criador. Olòdúmarè criou da lama (erùpè) Èşù Àgbà (Exu Primordial), dando-lhe vida através de seu hálito (ẹ̀mí), com a incumbência de dinamizar, transformar e restituir tudo, quer no Ọ̀run (mundo espiritual), quer no Àyé (mundo físico). Logo depois Olòdúmarè criou Òrìşà-nla (Grande Orixá – Oxalá), um dos nomes de Ọbàtálá. Em seguida foram criados os demais Ìmọlẹ̀: os da direita (Irúnmọlẹ̀ Ojùkòtún) e os da esquerda (Igbamọlẹ̀ Ojùkòsì) – que não tem nada que ver com bem e mal. Os da direita são expressos pela cor Funfun (branca), e eram os realmente chamados Òrìşà. Os da esquerda são expressos pela cor Dúdú (preta), denominados Ẹbọra. Das relações entre essas duas classes de Irúnmọlẹ̀ surgiram os demais seres do panteão Yorùbá, que tem a ver com o poder da realização (Àṣẹ), expressos pela cor pupa (vermelha).
Olòdúmarè após criar o mundo pediu a Ọbàtálá que moldasse o corpo do ser humano de lama, para que fosse animado por Olòdúmarè; portanto ele deu a forma onde habitaria nossa alma, ou espírito.
ABIMBOLA, Wande. Ijinlé Ohún Enu Ifa-Apá Keji , Ibadan, 1976
ADEMAKINWA, J.A.. Ife Cradle of the Yoruba , Lagos, 1958.
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